Skip to main content

A epístola de Judas, apesar de seu tamanho modesto, contém ensinamentos profundamente significativos que podem ser valiosos em nossos tempos atuais. Embora muitas vezes negligenciada no Novo Testamento, sua mensagem é relevante e aplicável à nossa vida cotidiana.

Nesta série de dois artigos, exploraremos algumas das passagens mais importantes desta carta e discutiremos como elas são relevantes e úteis para o mundo em que vivemos. Junte-se a nós nesta jornada para descobrir a sabedoria atemporal de Judas.

QUEM FOI JUDAS?

A tradição da história da Igreja tem comumente afirmado que o autor é Judas, o meio irmão de Jesus Cristo (vs. 1; Gl 1.19). Isso por causa da identificação que ele o faz no verso 1 com Tiago, que é o meio irmão do Senhor (pode ser identificado assim, pois, como aparece apenas o primeiro nome, deveria ser alguém muito conhecido e importante. Como podemos ver no concílio de Jerusalém, Tiago tem autoridade diante da comunidade cristã At 15.13).

Quanto à data em que foi escrita é incerto afirmar, porém, podemos identificar dentro do conteúdo que se passa em uma época posterior à escrita da segunda carta de Pedro, pois ele faz uma citação de 2 Pedro 3.2,3 (comparar os textos), nos versos 17 e 18.

O nosso grande foco ao estudarmos essa carta é destacar quais são as partes principais que Judas desenvolve ao escrevê-la; para isso buscaremos responder as seguintes perguntas: Para quem Judas escreve? Por que Judas escreve? Como ele desenvolve o seu objetivo? Após entendermos todos esses destaques feitos, daremos um salto no tempo. Tendo já olhado para o passado, agora observando no presente a nossa realidade buscando responder à pergunta: onde isso se aplica aos nossos dias? Comecemos então.

PARA QUEM FOI ESCRITA A EPÍSTOLA DE JUDAS?

A nossa primeira pergunta é muito importante de ser respondida. Pois, entendendo para quem Judas escreve podemos entender também a abrangência da aplicação que ela pode trazer. A epístola de Judas é comumente conhecida como uma epístola geral, ou universal. Isso se dá porque o autor não identifica diretamente os seus destinatários, mas, ao se referir a eles se refere como cristãos (vs. 1,2). As figuras que Judas usa para as ilustrações que traz, são comumente conhecidas nos meios judaicos (vs. 5-14), por isso, algumas pessoas vão defender que Judas escreve a sua carta para cristãos judeus.

Porém, quanto a tudo isso, o que de fato nos importa é que Judas escreve a sua epístola tendo em mente os seus irmãos em Cristo. Isso fica claro com as expressões que ele traz a respeito destes nos versos 1 e 2. Judas os destaca com 3 expressões: “chamados, amados em Deus Pai e guardados em Jesus Cristo”.

“os chamados são aqueles que
Deus separou para si mesmo”

Ele em primeiro (no nosso texto em português) destaca que estes são chamados. A palavra grega que foi usada para se referenciar a “chamados”, no Novo Testamento, sempre que ela é usada, está diretamente relacionada a pessoas que são separadas para Deus. São pessoas que Deus as têm para si. (o que envolve as suas práticas e objetivos de vida. – Rm 1.1,6,7; 8,28; 1 Cor 1.1,2; 24; Ap 17.14).

O segundo destaque que Judas faz em seu direcionamento é que estes também são amados em Deus Pai. Esta expressão tem uma grande relevância. Judas destaca que estes a quem tem enviado a sua carta são alvos do amor de Deus. O uso dessa palavra na Bíblia é muito vasto. Se fôssemos comparar o seu uso em todas as passagens que aparece nós ficaríamos muito tempo lendo as Escrituras. Mas, para resumir traremos uma passagem a respeito do amor de Deus, que traz a ideia de como esses são amados.

“O amor de Deus foi direcionado de
forma substitutiva aos seus amados”

Quando Jesus Cristo dá exemplo de uma grande expressão de amor, ele o diz em João 15.13: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos”. A maior prova de que Deus os ama é que Ele enviou o seu filho para morrer em seu lugar. O fato de que estes são qualificados como amados em Deus Pai, significa que o amor de Deus foi direcionado a eles através da morte substitutiva de Jesus Cristo, e, que esse amor se mantém sobre eles pelos méritos de Jesus Cristo.

A última expressão que Judas usa para definir os seus destinatários é muito interessante. Ele os chama de guardados em Jesus Cristo. Essa palavra “guardados”, dentro do seu sentido original, traz a ideia de alguém que está sendo vigiado, colocado sobre custódia. É alguém que está sendo vigiado para que não fuja de um local. Aqueles que são alvos do amor de Deus, são agora plenamente guardados pelo poder do próprio Deus mantidos na pessoa de Jesus Cristo. Isso significa que eles estavam em Cristo de forma que ninguém poderia os tirar de lá. Paulo vai dizer em Gálatas 3.27, que aqueles que foram introduzidos na pessoa de Cristo, são agora identificados diretamente com ele, logo, está guardada em Cristo.

Quando nos deparamos com a linguagem que Judas usa para se referir aos seus destinatários certamente não podemos considerar que estes não sejam salvos. Eles foram chamados por Deus para serem seus e viverem de forma santa, eles foram alvos diretos do amor de Deus que foi expresso na morte substitutiva de Cristo, e estão sendo guardados na própria pessoa de Cristo identificados diretamente com ele.

POR QUE A EPÍSTOLA DE JUDAS FOI ESCRITA?

Além de entender quem foram os destinatários da carta, também é essencial entender por que a epístola de Judas foi escrita.

No verso 3 nós podemos entender o motivo primário da escrita de Judas. Judas já estava buscando escrever algo para aqueles irmãos antes de escrever completamente esta carta. Ele estava escrevendo acerca da comum salvação, e então se sentiu obrigado a escrever incentivando aqueles irmãos a batalharem pela fé. Muitos vão dizer que Judas começou escrever com um objetivo em sua mente, mas, ao meio do caminho o mudou. Porém, o que de fato esse verso nos parece indicar é que ao escrever sobre o assunto da comum salvação, viu a necessidade de incentivar os irmãos a batalharem pela fé. Logo, ele não mudou o assunto, mas trouxe um foco específico nesse assunto. Ou seja, ele está falando sobre o batalhar pela fé tendo em mente a comum salvação.

Mas o que significa a comum salvação? Quando muitas vezes pensamos em algo “comum”, pode vir a nossa mente um padrão avaliativo de bom, comum, ou ruim. Porém, não é isso o que Judas quer destacar. Com “comum”, Judas quer dizer mútuo, algo que é compartilhado de igual forma entre as pessoas. Então, o assunto geral que Judas tinha em vista era a salvação que era comum, mútua, de igual medida a todos aqueles que a partilhavam, e, dentro desse assunto, Judas se sentiu obrigado a exortar os seus irmãos (aqueles que partilhavam com ele a comum salvação) a batalharem pela fé.

“Judas desafia todo cristão a batalhar pela fé,
sendo esta dada por Deus aos seus santos”

Quando Judas fala a respeito de fé nestes versos, podemos entender pelo contexto que ele se referia ao conjunto das doutrinas adotadas pelos cristãos, ou seja, aquilo que os cristãos acreditavam. Judas desafia então a todo cristão a batalhar pela fé, e ainda destaca que essa fé não é feita por homens, não é elaborada na mente humana, mas ela é dada por Deus aos seus, aqueles que são santos. A fé é ligada diretamente a salvação que é mútua de todos, pois assim como todos receberam e partilhavam a salvação, todos receberam e compartilhavam a mesma fé.

Mas por que então Judas diz que estes cristãos deveriam batalhar pela fé? Ele mesmo explica no verso 4. Havia certas pessoas se colocando sorrateiramente nos meios cristãos para perverter a fé. A palavra que Judas destaca sobre a forma como esses entravam é “com dissimilação”. Ela indica que eles de forma sorrateira e com más intenções se colocavam no meio dos cristãos. E ali, eles, que eram homens ímpios, ou seja, sem qualquer respeito ou consideração por Deus e pela fé cristã (que é um dos significados de ímpio), faziam da graça de Deus libertinagem e negavam a humanidade e divindade da pessoa de Jesus Cristo.

“Judas convoca os salvos a uma batalha.
Não em nome de si mesmos,
mas em nome da doutrina de Cristo”

Provavelmente estes se encontravam como Paulo disse em Romanos 6.1: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?”. Estes, dizendo-se salvos, usavam a graça de Deus (o favor imerecido concedido ao homem para que esse fosse salvo) para fazerem as suas práticas pecaminosas. Buscavam atingir os seus prazeres carnais, negando que Jesus Cristo é Deus, e a sua autoridade acima de qualquer ser. Essas eram as doutrinas que estes homens estavam atacando, essas eram as suas dissimulações contra a fé, por isso, Judas convoca aos salvos a uma batalha. Não uma batalha em nome de si mesmos, mas, uma batalha em nome da doutrina de Cristo, o Deus e Senhor sobre tudo e todos. Uma batalha em nome da fé por causa da comum salvação daqueles irmãos.

No próximo artigo falaremos sobre a batalha da fé expondo parte do texto desta epístola, e encerraremos trazendo algumas aplicações práticas importantes para os nossos dias.