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O que é o arrebatamento? Quando acontecerá e que sinais o procederá? Quais passagens bíblicas apontam para um arrebatamento? Quais são as teorias sobre o arrebatamento?

A doutrina do arrebatamento é uma das mais fundamentais para a fé cristã. Todo o cristão genuinamente convertido e regenerado pelo Espírito Santo aguarda ansiosamente o Dia de Cristo. Que é o momento em que Jesus aparecerá nos céus, visivelmente, para arrebatar a sua Igreja, julgar os ímpios e incrédulos, e inaugurar uma nova era na história da criação: os “novos céus e a nova terra”.

Mesmo que a doutrina do arrebatamento seja uma das mais conhecidas de toda a Bíblia, também é verdade que é uma das mais debatidas entre os cristãos. Entretanto, o debate que ocorre não está relacionado à essência da doutrina, mas sim ao “momento” em que o arrebatamento deve acontecer. O fato é que foram surgindo ao longo dos tempos pelo menos três posicionamentos na escatologia cristã sobre este evento. E estas posições são: o pré-tribulacionismo (arrebatamento antes do início da Grande Tribulação). O meso-tribulacionismo, que também pode ser chamado de mid-tribulacionismo (arrebatamento na metade da Grande Tribulação). E o pós-tribulacionismo (arrebatamento no fim da Grande Tribulação). É importante dizer que também existe a teoria do arrebatamento parcial, que deve ser rejeitada e tida por heresia. Todavia, antes de prosseguirmos sobre as diferenças entre as três posições sobre o arrebatamento [que será feito em outro artigo dessa mesma série sobre o arrebatamento], precisamos compreender a importância e a realidade dessa doutrina.

O SIGNIFICADO DE ARREBATAMENTO

Mas, afinal, o que é o arrebatamento? A nossa palavra “arrebatamento” em língua portuguesa é a tradução do termo grego “harpazo” [1]. Ambas as expressões, seja em grego ou em português, expressam um mesmo sentido em comum: a ação de “tirar” alguma coisa ou alguém de um lugar e “transportar” para outro lugar. Essa ação de “tirar” e “transportar”, pode ser realizada de forma abrupta, violenta ou repentina. E aqui está um ponto importantíssimo da doutrina do arrebatamento: a ideia de que seremos arrancados deste mundo e levados aos ares, para nos reunirmos com o nosso Senhor Jesus Cristo.

Arrebatamento secreto? Ou arrebatamento iminente?

Note que nem o verbo “arrebatar” em português, nem a expressão “harpazo” em grego, necessariamente implicam em um evento “secreto” ou “invisível”. Digo isto porque é próprio da teologia brasileira a crença de que o arrebatamento será “secreto”, “silencioso” e “invisível”. Porém, não é assim que as Escrituras Sagradas ensinam [embora eu reconheça que isto pode até ser deduzido a partir de determinadas premissas exegéticas e hermenêuticas]. Contudo, ressalto e enfatizo isto para que saibamos separar algo chamado de “doutrina da iminência” da doutrina do “arrebatamento secreto”. Nem todos os teólogos que defendem uma ideia de “arrebatamento iminente” defendem o “arrebatamento secreto”. Mas todo teólogo que defende o “arrebatamento secreto”, necessariamente defende a doutrina da iminência!

Posto isto, é necessário também explicar outra coisa: poucos são os textos bíblicos que ensinam a ideia de um arrebatamento, e nenhum destes textos está no Antigo Testamento! Assim sendo, podemos dizer que a doutrina do arrebatamento é um conceito exclusivamente neotestamentário. Sendo desenvolvido quase que exclusivamente pelo apóstolo Paulo. Logo, ainda que saibamos que a doutrina do arrebatamento é essencial para a fé cristã, precisamos também levar em consideração que “errar” nesta doutrina não faz de ninguém “mais salvo” ou “menos salvo”. Quando consideramos isto, podemos e devemos manter comunhão com irmãos que pensam de maneira diferente com relação a esta doutrina. Isso, desde que não preguem alguma heresia como a doutrina do “arrebatamento parcial”, ou neguem a existência deste fato bíblico. Nestes casos, deveremos nos posicionar firmemente junto à verdade bíblica revelada.

ALGUMAS BASES BÍBLICAS SOBRE O ARREBATAMENTO

O principal texto da doutrina do arrebatamento está em 1 Tessalonicenses 4.15-17. Neste contexto, Paulo está tratando um problema surgido no meio dos tessalonicenses. Muitos começaram a dizer que Jesus já tinha voltado e que eles tinham ficado. É por isto que o teor das duas epístolas aos tessalonicenses é altamente escatológico. Ao tratar o assunto da vinda de Cristo, especificamente, Paulo nos diz que a vinda não ocorrerá sem que primeiro os mortos ressuscitem (1Ts 4.15). E quando isto ocorrer, seremos “arrebatados juntamente com eles […] para o encontro do Senhor nos ares” (1Ts 4.17). É justamente neste versículo 17 do capítulo 4 de 1 Tessalonicenses que temos a primeira vez em que a palavra “harpazo” está sendo utilizada no sentido do evento escatológico relacionado à vinda de Cristo.

Um segundo texto que explicitamente fala do arrebatamento, embora não use a palavra “harpazo”, está escrito em 1Coríntios 15. Neste capítulo, Paulo está abordando a doutrina da ressurreição de Cristo e a ressurreição dos mortos. Visto que alguns dentre os coríntios buscavam deturpar e até mesmo negar a ressurreição [este capítulo é considerado o “capítulo de ouro” da doutrina da ressurreição]. A partir de 1Co 15.20, Paulo começa a trabalhar sobre a mecânica deste evento, descrevendo sobre “o porquê” e também “como” acontecerá a ressurreição dos mortos.

A relação entre a doutrina do arrebatamento e da ressurreição.

A base da doutrina da ressurreição está na própria ressurreição de Cristo, chamada por Paulo de “as primícias”. Sendo Cristo as primícias dos mortos (o primeiro ressuscitado nesta qualidade), temos o fato de que “depois, os que são de Cristo, na sua vinda” ressuscitarão (1Co 15.23). Outro ponto que Paulo ressalta nesta passagem é que o evento da ressurreição dos mortos marcará o início do fim, isto é, este evento está relacionado ao cumprimento e pleno estabelecimento do reino de Cristo sobre tudo e sobre todos (1Co 24-25). O fim de tudo apenas se dará quando a própria morte for destruída (1Co 15.26).

A cronologia dos fatos.

Após esclarecer “o porquê” a ressurreição é um evento necessário e ao mesmo tempo estabelecer um “cronograma” dos eventos que sucederão o fato (ressurreição dos mortos em Cristo; a vinda do fim; a consumação do reino; a vitória sobre a morte e a entrega do reino ao Pai), Paulo passa a falar sobre “como” isto acontecerá (1Co 15.35). E para isto ele cria uma analogia com uma semente semeada em um campo, mostrando que para o “nascimento” de uma planta é necessário, primeiramente, que o seu primeiro corpo (a semente) morra, e somente então ela brotará e receberá um novo corpo que o próprio Deus preparou (1Co 15.36-38).

Segundo o apóstolo Paulo, assim também se sucederá com os crentes em Cristo. Todos participarão desta ressurreição “num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta” (1Co 15.52). Mas, perceba que Paulo, no versículo anterior (v.51), revelou um mistério sobre este evento escatológico: “nem todos dormiremos, mas transformados seremos” (1Co 15.51).

A doutrina da ressurreição é estritamente neotestamentária?

A grande questão é que a doutrina da ressurreição dos mortos é antiguíssima. O próprio Abraão esboçou ter o entendimento deste fato, conforme narrado pelo autor da epístola aos Hebreus (Hb 11.19). Assim também foi crido por Jó (Jó 19.25-27), Davi (Atos 2.31), Marta (João 11.24), etc. A doutrina da ressurreição dos mortos é tão absolutamente clara nas páginas do Antigo Testamento que também foi profetizada pelo profeta Daniel (Dn 12.2). No entanto, até então, ninguém jamais havia ensinado em nenhum lugar que nem todos os santos necessitariam passar pela experiência da morte para desfrutarem da “ressurreição dos mortos”. Dizendo de outro modo, quando Paulo disse “nem todos dormiremos, mas transformados seremos” (1Co 15.51), ele estava realmente ensinando um mistério ainda não conhecido, semelhantemente ao que fez em 1Ts 4.15-17.

É por estas peculiaridades da teologia paulina que muitos dizem, equivocadamente, que “apenas Paulo ensinou a doutrina do arrebatamento”. Na realidade, não foi “apenas Paulo” quem ensinou essa doutrina, mas “apenas Paulo” foi claro e objetivo quanto a este evento. Em síntese, o que Paulo fez foi ampliar a revelação da doutrina da ressurreição dos mortos, para incluir a doutrina do arrebatamento. E com isto, ele conclusivamente anexou o evento do arrebatamento junto ao evento da ressurreição dos mortos. Algo que até os seus dias não estava claramente revelado, ou seja, um mistério.

O paralelo entre 1Co 15 e 1Ts 4 sobre a doutrina da ressurreição dos mortos e a doutrina do arrebatamento dos vivos é notavelmente claro. A partir disso, podemos concluir que o “arrebatamento” mencionado em 1Ts 4.17 e a “transformação” em 1Co 15.51 são, na verdade, o mesmo evento. Não há outra forma de ler estes textos. Tendo em vista que a doutrina do arrebatamento nesta perspectiva paulina não foi ensinada em nenhum outro lugar até que o próprio apóstolo a revelasse. Ainda, a doutrina da ressurreição dos mortos não apenas era crida, mas estabelecida como um fato pelas profecias veterotestamentárias.

Concluindo.

Portanto, chegamos à compreensão de que o arrebatamento é o evento pelo qual os crentes que estiverem vivos serão transformados. O arrebatamento é a “ferramenta” que concede novos corpos aos vivos durante a vinda de Cristo, ou ainda, é o “instrumento” através do qual Deus glorificará os corpos dos santos que estiverem vivos no Dia de Cristo.

Assim sendo, este é o primeiro artigo desta série cujo objetivo foi explorar “o que é o arrebatamento”. Em resumo, a doutrina do arrebatamento foi uma revelação neotestamentária, ensinada e explicitada principalmente pelo apóstolo Paulo. Esta doutrina fala sobre o fato de que na vinda de Cristo, quando ele ressuscitar os seus santos, aqueles que estiverem vivos não passarão pela experiência da “morte”, ao contrário, ainda vivos receberão a glorificação dos seus corpos, através do evento (mecanismo) conhecido como arrebatamento.

Também é importante ressaltar que na matéria da escatologia não há unanimidade entre os teólogos quanto ao momento exato em que o arrebatamento deverá acontecer. E há pelo menos três perspectivas principais sobre isto: o pré-tribulacionismo, o meso-tribulacionismo e o pós-tribulacionismo. Por fim, estabelecemos o fato de que o evento do arrebatamento está diretamente ligado à ressurreição dos mortos.

[1] ἁρπάζω