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Entre 1900 e 1950, o dispensacionalismo conquistou um grande número de defensores. E este fato se deve tanto à publicação e popularização da Bíblia de Estudo Scofield quanto à criação de institutos teológicos como o Instituto Bíblico Moody e o Seminário Teológico de Dallas. Podemos dizer, sem sombra de dúvidas, que já na primeira metade do século XX a maioria dos cristãos em solo americano já estavam evangelizados e influenciados por pastores e pregadores adeptos da vertente dispensacionalista. Muitos livros, artigos e até romances começavam a ser escritos, carregados das crenças deste sistema. Outro fator que contribuiu muito para o avanço e popularização do dispensacionalismo foi a divulgação deste sistema teológico nas rádios americanas, bem como o apelo “futurista” e “escatológico” característicos deste sistema teológico, o que tornou fácil aceitação do dispensacionalismo cuja premissa básica sempre foi a leitura natural das Escrituras Sagradas.

Nesse ínterim, surgia também o movimento fundamentalista que buscava fazer frente contra o avanço do liberalismo teológico em seio cristão. E os teólogos dispensacionalistas, ao que parece, foram os teólogos que com maior vigor e veemência se posicionaram a favor do fundamentalismo – ocasionando um “casamento perfeito” entre o movimento fundamentalista e o movimento dispensacionalista, porquanto o dispensacionalismo dizia “nossa hermenêutica é literal consistente”, enquanto o fundamentalismo dizia “precisamos defender a literalidade das escrituras”. Eis o porquê basicamente todos os fundamentalistas são também dispensacionalistas, e também o porquê todos os dispensacionalistas são necessariamente fundamentalistas. Em outras palavras, o avanço e o sucesso do dispensacionalismo – enquanto um sistema teológico – também significou o avanço e o sucesso do fundamentalismo ante ao liberalismo teológico.

Todavia, nem tudo eram flores. Enquanto o dispensacionalismo ia ganhando cada vez mais terreno na literatura, nas rádios e até mesmo entre os novos convertidos ao evangelho, o círculo mais “tradicional” da igreja – principalmente os reformados – teceu severas críticas contra o dispensacionalismo, especialmente por causa de sua escatologia que impreterivelmente redundava no pré-tribulacionismo. Nesse meio tempo, diversos artigos e até mesmo livretos, como o de A. W. Pink intitulado “Dispensacionalismo – Uma Análise”, eram produzidos com a finalidade de atacar o dispensacionalismo severamente. Alguns até mesmo chegaram a rotular o dispensacionalismo de seita, e condenaram o sistema teológico como uma heresia. Mas, quanto mais as críticas e objeções surgiam, mais os dispensacionalistas buscavam formas de aprimorar e revisar este sistema teológico surgido no século XIX. Provavelmente, o nome mais proeminente nesta revisão do dispensacionalismo foi o de Charles Ryrie.

Ryrie foi professor durante muitos anos no Seminário Teológico de Dallas. Autor prolífico, escrevendo mais de 50 livros, além de seus comentários nos textos bíblicos que foram editados e transformados na “Bíblia Anotada e Expandida”, lançada aqui no Brasil pela editora Mundo Cristão em parceria com a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Outro livro bem conhecido de Charles Ryrie em solo tupiniquim é “Teologia Básica: ao alcance de todos” também editado e vendido pela editora Mundo Cristão. Sem dúvidas, Charles Ryrie é um dos principais nomes do dispensacionalismo, talvez até mais importante do que John Nelson Darby – o primeiro a sistematizar o dispensacionalismo. Sua obra mais importante para o dispensacionalismo foi lançada em 1965, cujo título original é “Dispensationalism Today”.

Foi com Ryrie, a partir de 1965, que o dispensacionalismo ganhou uma forma mais robusta e mais acadêmica. Foi Charles Ryrie o primeiro a elencar aquilo que deveria ser considerado os elementos sine qua non do dispensacionalismo. Além disto, ele pontuou corretamente que nem o número de dispensações e nem o pré-tribulacionismo eram partes essenciais do dispensacionalismo – duas das crenças mais criticadas pelos opositores deste sistema teológico. Estas alegações de Charles Ryrie, em um certo aspecto, acalmou os críticos e muniu os próprios dispensacionalistas para um diálogo mais acadêmico com os aliancistas (teologia reformada). E assim, pela primeira vez desde a sua sistematização, o dispensacionalismo deixou de ser simplesmente uma “fantasia escatológica” para se tornar um sistema teológico robusto, plausível e alternativo ao aliancismo. Essa forma de dispensacionalismo ensinado por Charles Ryrie recebeu o nome de dispensacionalismo revisado. Outros teólogos que também fazem parte dos dispensacionalistas revisados são: John Feinberg, John Walvoord, Dwight Pentecost, Carlos Osvaldo Pinto e Marcos Granconato.

As mudanças promovidas pelo dispensacionalismo revisado, em face ao dispensacionalismo clássico (a forma mais antiga de dispensacionalismo), foram significativas. O dispensacionalismo revisado não está tão preocupado em “criar quadros e esquemas proféticos”, em “dividir a história em 7 eras”, em “criar uma severa dicotomia entre Israel e Igreja”, em “criar ‘duas novas alianças’, uma para Israel e outra para Igreja”, ou em “criar uma separação entre o reino dos céus e o reino de Deus”. O dispensacionalismo revisado passou a ter uma maior preocupação com as terminologias bíblicas, com a discussão acadêmica e com a apologética do sistema. Outro fator que diferenciou o movimento do dispensacionalismo revisado, agradando os reformados, foi o fato de que a maioria dos que aderiram a este sistema também eram calvinistas, soteriologicamente falando. Se bem que, na realidade, Charles Ryrie e outros teólogos estavam mais para o “calvinismo de 4 pontos”, porquanto não aceitavam a “expiação limitada”. Contudo, ainda assim facilitou o diálogo com os reformados, haja vista que o dispensacionalismo clássico, embora tivesse nascido em seio calvinista, logo se tornou majoritariamente arminiano e pentecostal.

O dispensacionalismo revisado possui 4 grandes pilares: a hermenêutica segundo o método histórico-gramatical, a escatologia pré-milenista, a distinção entre Israel e Igreja e a maior ênfase doxológica – que por si só é uma contraposição ao aliancismo e sua maior ênfase soteriológica. As grandes obras lançadas no Brasil que seguem uma perspectiva do dispensacionalismo revisado, além do “Dispensacionalismo” de Charles Ryrie – lançada pela editora Batista Regular – são: “Quando a Trombeta Soar” da editora Chamada da Meia-Noite; “O Arrebatamento” de John Walvoord, lançada pela editora Carisma; “Todas as Profecias da Bíblia” também de John Walvoord, lançada pela editora Vida; “Manual de Escatologia” de Dwight Pentecost, lançada pela editora Vida; e “Evidências do Arrebatamento” de John Hart, lançada pela editora Batista Regular. Muitas outras obras poderiam ser citadas, porém estas representam muito bem a perspectiva do dispensacionalismo revisado.

Em síntese, o dispensacionalismo revisado foi um movimento que surgiu entre 1950 e 1960, liderado principalmente por Charles Ryrie, cujo ápice foi a obra “Dispensationalism Today” em 1965. Este sistema teológico possui uma maior preocupação acadêmica e apologética que o distanciou substancialmente do dispensacionalismo clássico – John Nelson Darby e Cyrus Ingerson Scofield. Além disso, o dispensacionalismo revisado estabeleceu 4 grandes pilares, onde todo este sistema teológico deve estar firmado, que são: a metodologia histórico-gramatical, o pré-milenismo, a distinção entre Israel e Igreja e a doxologia como ênfase. Essa forma de dispensacionalismo ganhou uma maior simpatia dos teólogos reformados, embora continuou sendo desprezado por outros.