O pós-tribulacionismo se destaca como a primeira perspectiva sistematizada sobre o arrebatamento da igreja. Suas raízes podem ser rastreadas desde os pais da igreja até os dias atuais. A longa trajetória dessa doutrina ao longo do tempo resultou em uma riqueza de interpretações e abordagens, o que levou ao surgimento de pelo menos três formas principais de pós-tribulacionismo: o da patrística, o clássico e o futurista. Além disso, é interessante notar que, em certos círculos, a perspectiva do arrebatamento pré-ira (que será tratado em outro artigo) é considerada uma variação do pós-tribulacionismo. Neste artigo, contudo, a ênfase será no pós-tribulacionismo da patrística, no clássico e no futurista.
Foi nos primórdios da igreja cristã que a perspectiva pós-tribulacionista emergiu de maneira incipiente, moldando-se gradualmente através das reflexões dos líderes e teólogos conhecidos como pais da igreja. Esse ponto de vista, que frequentemente também é denominado de intra-tribulacionismo, apresentou uma abordagem única que ressoa até os dias de hoje.
Os pensadores da patrística destacaram uma convicção intrínseca: a importância do sofrimento e da tribulação como partes inerentes à jornada cristã. Acreditavam que a igreja não estaria isenta de desafios, mas enfrentaria uma fase de severas provações antes de encontrar sua plena redenção em Cristo. Nesse contexto, o arrebatamento era percebido como um evento que os libertaria da perseguição do Anticristo, preservando-os das angústias desencadeadas por suas ações.
O aspecto distintivo da perspectiva da patrística repousava na crença de que o arrebatamento ocorreria em meio à tribulação e ira do Anticristo contra a igreja. Eles ressaltavam que a igreja não seria poupada da provação, mas encontraria segurança e livramento através do arrebatamento enquanto ainda estivessem enfrentando as adversidades da grande tribulação. No entanto, pra os pais da igreja, o arrebatamento não seria uma mera fuga da grande tribulação, como se fosse uma escatologia escapista, porém, uma preservação do meio dela, refletindo a ideia de que a igreja seria purificada e fortalecida através do sofrimento, a fim de que, após isto, pudesse se encontrar com Cristo nos ares, santa e imaculada. Assim, o arrebatamento marcava o fim desta era e o início de uma nova, onde Cristo e sua noiva estão juntos e unidos para sempre.
Ainda hoje o pensamento dos pais da igreja continua a ressoar nas discussões escatológicas, lembrando-nos da rica diversidade de interpretações ao longo da história da igreja. Essa perspectiva intrincada destaca a unidade entre a tribulação, a perseverança e a esperança, inspirando os crentes a enfrentar desafios com fé e antecipação da glória vindoura. É exatamente por isso que os teólogos da patrística também são disputados pelos pré-tribulacionistas, os quais ainda buscam documentos que ressalte uma esperança pré-tribulacional na pluralidade de pensamentos havidos durante este período da história e teologia da Igreja.
O pós-tribulacionismo clássico, ou pós-tribulacionismo tradicional, representa uma perspectiva que abraça uma chave hermenêutica idealista para a interpretação das Sagradas Escrituras. Essa abordagem, amplamente difundida, está associada ao amilenismo e ao pós-milenismo, escolas de pensamento que compartilham da ideia de uma era milenar não literal, seja consumada na existência da igreja (amilenismo) ou inaugurada progressivamente pela influência espiritual do evangelho (pós-milenismo).
Essa forma de pós-tribulacionismo está profundamente enredada com uma concepção chamada supersessionismo, que sustenta que a igreja cristã substituiu permanentemente Israel como o povo de Deus. Nessa perspectiva, o Israel espiritual é visto como a continuação do plano divino, enquanto o Israel étnico não desempenha mais um papel distinto nas profecias escatológicas. Em outras palavras, essa linha interpretativa rejeita Israel como o “relógio escatológico de Deus”. É importante observar que essa isto é altamente controverso e debatido dentro do contexto escatológico.
Na ótica do pós-tribulacionismo clássico, as profecias apocalípticas frequentemente adquirem uma dimensão espiritual ou alegórica. Ao invés de se concentrar em eventos físicos e cronológicos, essa abordagem busca extrair significados mais profundos e simbólicos das passagens proféticas. A grande tribulação, em vez de ser entendida como um período de adversidades futuras, pode ser vista como uma representação das lutas espirituais enfrentadas pela igreja ao longo da história.
A relação entre a grande tribulação e a vinda de Cristo é vista como um evento de natureza mais espiritual do que literal, onde a igreja enfrenta as provações do mundo e do maligno antes de ser redimida em comunhão com Cristo. Nesse cenário, o arrebatamento é interpretado como um evento que ocorre no contexto de uma transformação espiritual, culminando na unificação final da igreja com Cristo e na inauguração do estado eterno. Neste sentido, o pós-tribulacionismo tradicional rejeita uma ideia de um período tribulacional de sete anos literais, ou de uma primeira ressurreição literal antes de um milênio literal.
Embora o pós-tribulacionismo clássico ofereça uma visão metafórica e profundamente espiritual das profecias, sua interpretação idealista e suas implicações teológicas podem gerar debates e divergências consideráveis. Como em todas as perspectivas escatológicas, a busca pela compreensão verdadeira das profecias bíblicas continua a estimular discussões teológicas enriquecedoras entre os estudiosos e crentes. É exatamente por causa disto que essa forma de pós-tribulacionismo não combinou com a crença em um milênio literal, e fez com que o pré-milenarismo histórico (não-dispensacionalista) precisasse reformular essa perspectiva. Daí foi desenvolvido o que podemos chamar de pós-tribulacionismo futurista.
Com o surgimento do movimento dispensacionalista e a ascensão das interpretações futuristas das profecias bíblicas, o pós-tribulacionismo encontrou um terreno de mudança – principalmente por causa das conferências proféticas muito comuns no final do século XIX. Isto proporcionou uma notável evolução da perspectiva pós-tribulacionista, que se tornou mais voltada para o futuro. Este desenvolvimento foi impulsionado, em parte, pela necessidade de responder às objeções levantadas por amilenistas e pós-milenistas que tentavam associar o pré-milenismo histórico com a escatologia dispensacionalista.
Nesse contexto, um teólogo que se destacou na defesa do pós-tribulacionismo futurista foi George Eldon Ladd. Enquanto Darby é frequentemente reconhecido como o pai do pré-tribulacionismo, Ladd pode ser considerado o pai da formulação e defesa do pós-tribulacionismo futurista. Seu trabalho apologético desempenhou um papel significativo em moldar e clarificar a visão pós-tribulacionista dentro do contexto do pré-milenismo histórico.
Ao abraçar essa nova perspectiva, o pós-tribulacionismo abandonou a chave hermenêutica idealista que caracterizava o pensamento pós-tribulacionista clássico. Isto deu espaço para o futurismo, uma abordagem interpretativa que vê as profecias apocalípticas como eventos futuros ainda por se concretizarem. Essa chave hermenêutica é marcada por uma ênfase na septuagésima semana de Daniel. Dentro dessa visão, o Anticristo é considerado uma pessoa futura, que surgirá como um líder mundial de influência maligna. Todavia, o pilar central que impulsiona a separação do pós-tribulacionismo clássico para o pós-tribulacionismo futurista reside na adoção do conceito do “já e ainda não”.
A premissa do “já e ainda não” reconhece que muitas das profecias escatológicas do Antigo Testamento sobre o reino de Deus, o trono futuro de Davi e o governo geopolítico do Messias prometido na cidade de Jerusalém, começaram a ser cumpridas com a formação e estabelecimento da igreja, que é o corpo do Messias no Novo Testamento. Entretanto, o cumprimento pleno dessas profecias ainda aguarda a sua consumação física e literal no futuro, o que acontecerá no reino milenar de Cristo.
Esta abordagem, notadamente influenciada por pensadores como Oscar Cullmann, redesenhou o entendimento pós-tribulacionista, enriquecendo-o com elementos que se assemelham ao pensamento dispensacionalista. Isso foi realizado mantendo um foco vital na união da igreja com Cristo durante as tribulações e desafios do mundo. Nesse sentido, a contribuição de Ladd e sua influência no desenvolvimento desta perspectiva pós-tribulacionista constituem um marco significativo na compreensão escatológica.