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Uma geração impiedosa – Um comentário no Salmo 12.

1. Socorro, SENHOR! Porque já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre os filhos dos homens. 2. Falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido. 3. Corte o SENHOR todos os lábios bajuladores, a língua que fala soberbamente, 4. pois dizem: Com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós? 5. Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o SENHOR; e porei a salvo a quem por isso suspira. 6. As palavras do SENHOR são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes. 7. Sim, SENHOR, tu nos guardarás; desta geração nos livrarás para sempre. 8. Por todos os lugares andam os perversos, quando entre os filhos dos homens a vileza é exaltada. 

O salmo doze é dividido em quatro parágrafo de dois versículos cada. De forma rezumida, o salmo relata o clamor urgente pela ação de Deus diante da falta de piedade do homem. A impiedade chegou ao ponto em que nem mesmo entre pessoas próximas existe verdade. Todos falam com falsidade e mentira, portanto, o que o salmista clama é para que Deus livre os Seus fiéis das mentiras dos homens, e encerra sua oração demonstrando sua confiança nas palavras e nas promessas de Deus.

12.1,2 – O CLAMOR PELA GERAÇÃO IMPIEDOSA.

A primeira expressão do texto é “socorro”. Essa palavra denota um pedido de ajuda que é urgente e que não pode ser remediado. Além da urgência, também é um pedido que conta com a insistência. É feito até que se receba a resposta. Esse clamor por socorro é tão sério e urgente que é quase impossível que aquele que está pedindo não receba a resposta. O termo tem sua origem em duas palavras hebraicas que significam “ser salvo” (em batalha) e “eu rogo agora, por favor”. É como um soldado que está cercado por seus inimigos e precisa de ajuda de forma urgente, sendo um caso de vida ou morte.

Por esse sentido, podemos perceber com clareza que o clamor do salmista é algo urgente e que necessita do auxílio de Deus. Outro fato interessante com respeito a esta palavra é que ela possui um termo equivalente no grego, que é a expressão “Hosana”, utilizada em textos como Mt 21.9,15; Mc 11.9,10 e Jo 12.13 e que também expressa um sentido de “ser propício, salvar”.

“Havia urgência e insistência até
que seu clamor fosse atendido”

Para ilustrar melhor esse pedido de socorro, temos nas Escrituras o relato no livro de Gênesis que, quanto Ló foi levado cativo com sua família e seus bens, um conseguiu escapar e contou o ocorrido a Abrão. Vendo a necessidade do socorro, Abrão não pensou duas vezes até correr ao seu sobrinho e o ajuda-lo. Ainda, Jesus conta uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer (Lc 18.1-8). Ele fala sobre uma viúva que clamava ao juiz para que sua causa contra seu inimigo fosse resolvida. Por tempos ela clamou até que recebeu a resposta. Jesus então aplica a parábola dizendo: “não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defende-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça”.

Juntando o pensamento destas duas passagens chegamos ao entendimento mais claro da primeira expressão do texto. O pedido de socorro do salmista, portanto, chama a atenção ao fato de que existia urgência e insistência até que o seu clamor fosse atendido.

Mas o que fez com que ele clamasse com tanta urgência? Qual o motivo que levou Davi a buscar insistentemente ao Senhor?

“Porque já não há homens piedosos”.

A geração impiedosa era o grande problema que estava acontecendo naquele tempo. Em outras palavras, a piedade chegou ao fim, já não há mais fiéis a Deus, já não há homens que se importam em cumprir a lei do Senhor, não existem mais aqueles que se interessam somente em obedecer a Deus e segui-lo. Parece-nos que as circunstâncias que estavam acontecendo naquele tempo refletem completamente os nossos dias. Para todos os lados que olhamos não conseguimos enxergar piedade. A perversidade chegou a um ponto tão sério, que não se consegue perceber se existem homens que ainda permanecem fiéis a Deus.

Quando olhamos para o passado e vemos que existiram homens que se deleitavam na Palavra, que amavam verdadeiramente ao Senhor, que se dedicavam em pregar o evangelho e em conhecer ao Senhor, pensamos que em nossos dias o retrato é de uma sociedade completamente afastada de Deus. E de fato é, mas quero nos chamar a atenção para a realidade de que desde que o pecado entrou na raça humana, essa é maior verdade que o homem enfrenta.

“não há justo, não há
quem busque a Deus”

Houveram momentos em que se percebia no seio da sociedade homens e mulheres que estavam mais interessados em buscar ao Senhor, todavia a queda afeta todas as gerações. É por isso que a única esperança que temos é na redenção e não na sociedade. Enquanto esperarmos que o homem se torne melhor, que se volte para Deus e consiga encontrar o caminho da moral, estaremos fadados ao erro de confiar no homem e não em Deus. A própria Escritura nos ensina que “não há justo, não há quem busque a Deus”. Sendo assim, se não for pela redenção, jamais encontraremos no contexto geral pessoas que se interessam pelo relacionamento com Deus.

Outro fato importante de se analisar, é a vida de santidade. Talvez seja esse um dos grandes problemas que enfrentamos em nossos dias e que fez Davi dizer também no seu tempo: “Já não há homens piedosos”. A piedade se resume em viver de forma devota a Deus, tendo por consideração a vida de santidade. Deus é santo e ordena que sejamos também santos. O que o salmo nos destaca é que naquele tempo “sumiram” os que se interessavam em viver a santidade.

A partir deste momento, o salmo destaca que a língua é a maior evidência do afastamento de Deus. Se queremos saber se alguém não pratica a piedade, é só observarmos as suas palavras. Jesus afirma que “a boca fala o que está cheio o coração”. Sendo assim, alguém que tem o coração afastado de Deus, irá demonstrar através de suas palavras este afastamento. É impossível que alguém que fale com mentira, injúria, falsidade, blasfêmia e enganação esteja próximo de Deus. Sendo assim, se a boca expressa estas coisas é porque o coração está sujo.

O relacionamento dos perversos são vazios.

A expressão utilizada no texto: “uns aos outros”, destaca que os ímpios não causam problemas apenas àqueles que são seu inimigos, mas também a todos aqueles que estão em seu círculo social. Sejam amigos ou família, todos os que estão próximos dos ímpios sofrem pela sua falta de piedade. Davi destaca três características da boca dos ímpios.

A primeira característica é a falsidade. Esta característica trata-se de palavras fazias, sem conteúdo. As palavras dos ímpios não podem produzir edificação, por não serem palavras com relevância. O “nada” não pode produzir “algo”. Ou seja, como um ímpio poderá produzir frutos no coração de alguém, se as suas palavras são como o vácuo?

A segunda característica são os lábios bajuladores. Os bajuladores são aqueles que “engradecem os outros” com o objetivo de receber favores. Eles falam bem do seu próximo para obter privilégios. O bajulador não honra o próximo no intuito de reconhecer algum feito, mas apenas para benefício próprio.

A terceira característica é o coração fingido. Este é aquele que tem em sua fala um coração sobre, um coração duplo. Em outras palavras, são aqueles que falam com outras intenções em seu coração. Esta se relaciona diretamente com o ponto dois, o homem bajulador.

12.3,4 – O ANSEIO PELA AÇÃO DIVINA.

À vista disso, do fato de que já não há piedosos e que sumiram os que buscam verdadeiramente ao Senhor, e também que seus lábios demonstram o afastamento de Deus, Davi passa a mostrar-nos seu anseio pela ação de Deus sobre a impiedade.

“Corte o Senhor os lábios bajuladores, a língua que fala soberbamente”. Seu pedido é para que haja julgamento e destruição dos ímpios. Eles falam com insolência e ainda se orgulham disso. Não há qualquer resquício de arrependimento e mudança, pelo contrário, ele afirma que aqueles que assim fazem se orgulham de suas palavras.

O motivo do seu anseio é demonstrado no versículo 4, no qual ele afirma: “pois dizem: Com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós?”. Os ímpios, além de não enxergarem problema nas suas mentiras, sua moral está completamente destruída. A tradução da Bíblia NVT diz no verso quatro: “Mentiremos o quanto quisermos. Os lábios são nossos; quem nos impedirá”. Em outras palavras, o que os ímpios afirmam é: A boca é nossa, quem irá nos impedir de falar mentiras e com falsidade?

Este é o motivo de Davi em sua oração para que Deus atue. Os ímpios não temem nem mesmo ao Senhor, afirmando que não existe ninguém que pode os deter. Esta frase demonstra a arrogância dos ímpios em face do juízo, misericórdia e poder de Deus. O fato de que Deus ainda não atuou, não quer dizer que ele não o fará, mas que espera pacientemente até que o ímpio se arrependa do seu pecado.

Todavia, embora Deus espere, haverá o momento do julgamento, no qual o ímpio já não terá mais saída. Ele sofrerá a condenação e os justos serão recompensados.

12.5,6 – A RESPOSTA DE DEUS SOBRE A GERAÇÃO IMPIEDOSA.

Em virtude do não arrependimento dos ímpios, Deus trará justiça a seu tempo.  A geração impiedosa sofrerá punição. O versículo cinco nos mostra a resposta direta de Deus em relação ao clamor do seu povo. Ele diz: “Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora; diz o Senhor”. A expressão dita por Deus “eu me levantarei” nos revela três pontos importantes.

  • Primeiro, Deus é misericordioso e longânimo. Já trabalhamos isto nos versos anteriores. Basta-nos apresentar o fato de que Deus esperou um tempo para que se levantasse, nos ensinando que ele espera que o ímpio se arrependa.
  • Segundo, Deus não se ausenta. O fato de que ele está vendo a “opressão dos pobres” e seus ouvidos estão atentos ao “gemido dos necessitados”, indica que ele está sempre presente, não pode dormir, e seu olhos jamais se fecham para as injustiças no mundo.
  • Terceiro, Deus age no momento certo. O Senhor jamais falha em sua soberana atuação. A impiedade pode até dar indícios de vitória, mas Deus quando “se levantar” fará com que todos os ímpios estejam diante dos seus pés.

Tendo declarado o fato, Davi nos informa sobre a pureza da palavra e das promessas de Deus. O versículo 6 faz um contraste direto entre Deus e o ímpio. Enquanto o ímpio fala com mentira, bajulação e coração fingido, a palavra de Deus é completamente pura. É como prata refinada sete vezes, indicando o grau máximo de pureza e perfeição. Deus jamais fala com falsidade, portanto, aquilo que ele prometeu irá cumprir. Se ele afirmou que os ímpios seriam julgados, assim será feito, pois Ele não pode mentir.

12.7,8 – A CONFIANÇA NO LIVRAMENTO DE DEUS.

Uma vez que Deus prometeu e sua palavra é perfeitamente pura e verdadeira, a confiança apresentada em Deus está pautada em sua promessa. Se Deus não pode mentir e prometeu, devemos confiar. A geração impiedosa jamais se sobressairá diante dos justos. Ainda que os justos padeçam e passem pelos sofrimentos causados pelos ímpios, eles tem a garantia de Deus que serão guardados e livrados. É como um homem que fica na torre de vigia, no qual todas as movimentações no reino e fora do reino estão sempre diante dos seus olhares. A qualquer momento pode ocorrer alguma situação de perigo, mas ele está sempre alerta. É como uma cidade completamente fortificada, a qual nenhum inimigo pode perfurar suas barreiras. Assim é o Senhor, está alerta, presente, nos guarda e protege.

O último versículo do Salmo irá nos informar que “Por todos os lugares andam os perversos”. Sendo assim, faz uma alusão ao que Davi diz no primeiro verso: “Socorro”. Vemos que esta expressão inicial denota um soldado que está completamente cercado pelos seus inimigos e que precisa urgentemente de ajuda. Ele está mostrando que de todos os lados tem sofrido ataques dos ímpios e que necessita urgentemente de ajuda. Aí está o fato da confiança em Deus, em que ele, Davi, mesmo cercado pelos ímpios crê na promessa de Deus de livramento.

CONCLUSÃO

A que conclusão podemos chegar ao analisar o salmo?

No momento que vivemos precisamos clamar por socorro. Há uma geração impiedosa vivendo em nossos dias. Não há mais homens piedosos, não há mais aqueles que se interessam pela Palavra de Deus, por servir ao Senhor. De todos os lados que olhamos a impiedade está crescendo e se multiplicando. Sendo assim, precisamos buscar a ajuda e auxílio de Deus. Ele é o único que pode convencer o homem da sua iniquidade e mudar os corações.

Além disso, precisamos também cuidar com a nossa própria vida. É muito fácil olharmos para aquilo que a sociedade tem vivido, olhar para o afastamento de Deus e não analisar também a nossa vida. Precisamos cuidar no nosso coração porque ele é enganoso. Muitas vezes nosso coração tem nos “contado mentiras” acerca de nós mesmos. Ainda, necessitados cuidar de nossas palavras, pois elas evidenciam se estamos ou não próximos de Deus. Devemos manter uma vida de justiça e retidão. Não devemos ter em nossa boca a mentira, bajulação, falsidade, blasfêmia, ódio, gritarias, porfias, nem qualquer outro pecado que envolva a nossa vida.

Podemos aprender também com o salmo que precisamos esperar o agir de Deus neste mundo. Sabemos que as coisas estão caminhando para o plano final e redentivo, no qual a geração impiedosa será punida, enquanto os justos terão a bênção da presença eterna de Deus. Sendo assim, a nossa confiança deve estar em suas promessas, pois, como Davi afirmou, as palavras do Senhor são puras como a prata. Ele não pode jamais mentir.

Ore por piedade, pregue sobre piedade, viva a piedade, clame para que Deus levante homens e mulheres piedosos em nossa geração impiedosa.

Diego Batista

Diego é fundador do site Firme Fundamento. É Bacharel em Teologia pelo Instituto Bíblico Maranata, e Ministério Eclesiástico pela UNIFIL. Casado com Bianca e pai do Benjamin