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A influência da Teologia da Substituição no Aliancismo.

O Aliancismo é o sistema teológico que entende o relacionamento de Deus com a humanidade como um relacionamento pactual. Mas antes de falar do Aliancismo propriamente dito, é necessário primeiro falar sobre a teologia da substituição, que é a base do Aliancismo.

A teologia da substituição, que também pode ser chamada de “supersessionismo”[1], é a afirmação de que a Igreja substituiu Israel como o povo de Deus. Essa doutrina possui origem na patrística, especificamente em Justino, o Mártir. Ele foi o primeiro[2] a identificar a Igreja como o verdadeiro Israel espiritual; isto está registrado em seu livro “Diálogo com Trypho, o judeu”, quando ele disse: “nós somos os verdadeiros e espirituais israelitas, a semente de Judá, Jacó, Isaque e Abraão”[3]. Ao se verificar a história da Igreja, nota-se que essa ideia de Justino se tornou uma verdade ecoada e repetida exaustivamente por outros grandes nomes da teologia como Ambrósio, Jerônimo e Agostinho[4]. Sendo adotada pelo catolicismo romano e pela igreja ortodoxa.

No século XVI, embora os reformadores tenham buscado se distanciar da Igreja Católica reformando suas doutrinas, tanto Martinho Lutero, como Ulrico Zwínglio e João Calvino ratificaram o supersessionismo católico. Ou seja, deram continuidade a essa forma de pensamento que posteriormente se tornou dogma para a teologia reformada.

A crença aliancista está fundamentada na ideia de que Deus estabeleceu alianças com a humanidade ao longo da história. Essas alianças são vistas como concertos entre Deus e a humanidade e são a base para as muitas leis e regras encontradas na Bíblia. A influência da teologia da substituição no desenvolvimento do Aliancismo, é vista na forma como o supersessionismo norteou a interpretação das alianças encontradas na Bíblia. A teologia da substituição transportou para o sistema aliancista a crença de que a Igreja é superior à Israel nos planos proféticos de Deus e, portanto, a Igreja substituiu Israel como o povo de Deus. Isto levou a uma reinterpretação das alianças encontradas na Bíblia, com foco na Nova Aliança e nas suas implicações para a Igreja. Também levou a uma maior ênfase na importância da Igreja como povo de Deus e na necessidade de os cristãos viverem em obediência às leis de Deus.

João Calvino teve uma grande importância no desenvolvimento do pactualismo — um outro nome para o sistema teológico aliancista. A teologia de Calvino era baseada na ideia de uma aliança entre Deus e a humanidade, e ele acreditava que Deus havia estabelecido uma aliança eterna com a humanidade que não poderia ser quebrada. Essa aliança está baseada na graça e na misericórdia de Deus, e através dela Deus providenciou a salvação para a humanidade[5].

A teologia de João Calvino também enfatizou a importância da Igreja como mediadora entre Deus e os homens. Ele acreditava que a Igreja era o principal instrumento através do qual a graça de Deus era revelada, e que era função da Igreja ensinar e pregar a Palavra de Deus[6].

Por fim, o ápice do desenvolvimento doutrinário do Aliancismo se dá na Confissão de Fé de Westminster. O capítulo VII da Confissão de Fé de Westminster (CFW) é totalmente dedicado ao pactualismo. Este capítulo destaca o fato de que Deus foi quem decidiu estabelecer uma aliança com a humanidade e que esta aliança seria a base de seu relacionamento com os homens. Este pacto feito entre Deus e Adão exigia obediência perfeita, mas Adão caiu em pecado. Então, Deus instituiu um novo pacto, o pacto da graça.

A Confissão de Fé de Westminster é o principal documento da fé reformada e é a normatizadora do Aliancismo. Ela tem sido a maior influência na história e no desenvolvimento deste sistema teológico. Os aliancistas têm visto a Jesus como o cumprimento da aliança que Deus fez com Adão. Neste sentido, Jesus se torna o mediador entre Deus e o homem, e sua morte e ressurreição são vistas como o cumprimento final da aliança. Esta compreensão de Jesus como o mediador da aliança tem sido central para a teologia reformada. A igreja é vista como uma comunidade de crentes, de Abel até o último a ser salvo, unidos neste relacionamento de aliança com Deus. Esta compreensão da igreja como uma comunidade pactual tem sido o foco central na prática e culto das igrejas reformadas.

[1] Disponível em <https://www.gotquestions.org/replacement-theology.html> Acesso em 01 de março de 2023.

[2] Ice, Thomas D., “What is Replacement Theology?” (2009). Article Archives. 106., p. 2

[3] Justino Martir; “Dialogue with Trypho the Jew”; Vol 1, OXFORD: 1745, p. 73, tradução nossa

[4] Disponível em <https://www.thescribesportion.com/dangerous-heresy-replacement-theology/> Acesso em 01 de março de 2023

[5] João Calvino, “Institutas da Religião Cristã”, Institutas I, capítulo X, parágrafo 1

[6] João Calvino, “Institutas da Religião Cristã”, Institutas IV, capítulo I, parágrafo 9